ENSAIO: Somos arte em movimento.
- João Paulo
- 10 de ago.
- 2 min de leitura
Atualizado: 11 de ago.

Como pode a arte ser tudo e nada ao mesmo tempo? Uma verdadeira dança de reflexos que, conforme a música, revela tanto sobre nós e sobre ela mesma. Pode revelar tudo como pode revelar nada. Talvez o fato mais desconcertante sobre a arte, por mais difícil que seja admitir, é que ela não existe sozinha. Ela se torna insignificante, sem sentido, sem propósito. Não revela nada, não incita nada. Por outro lado, quando somos nós que estamos fechados à arte, quando somos nós que não entendemos, não reagimos, não sentimos a arte, isso diz mais sobre nós ou sobre a própria arte? Afinal, como já disse, a arte é sobre o reflexo. Quando a vida está tão pesada, quando a realidade é tão sofrida, e a arte não consegue despertar a substância que buscamos, onde está a falha de comunicação? Para mim, pior do que não gostar de uma obra de arte, é sentir indiferença, desprezo, ou melhor, não sentir nada. Me sinto defeituoso. Me pergunto o que há de errado comigo. Penso comigo mesmo: “Será que é justo escrever sobre essa obra nessas circunstâncias? O quanto de mim não deixei ‘infectar’ minha experiência? O quanto de mim permiti manipular a obra para que ela seja tudo menos aquilo que foi pensado?” Todos questionamentos válidos os quais não consigo encontrar uma resposta válida. É justo ou não? Dizer que é justo leva à conclusão que a minha experiência é soberana e aquela obra só existe na minha percepção. Dizer que não é justo leva ao raciocínio que a obra existe sem nossos julgamentos, sem a nossa participação, e isso é verdade? Uma obra existe sem alguém que a desafie? Como posso sequer pensar comigo mesmo que falhei com uma obra? Como posso sentir culpa de mim mesmo por isso? Já não somos cruéis conosco o suficiente? Prefiro pensar na arte como um rio. Pensamos o tempo todo que somos pedras. Pensamos que a arte, assim como nós, é pedra. Imutável, definitiva, conclusiva. Quando, na verdade, a arte é tão mutável quanto nós. Se nós mudamos todos os dias, o tempo todo, até o fim de nossas vidas, a arte também. Afinal, não é uma dança de reflexos? Uma coisa não anda sem a outra. Uma coisa não existe sem a outra. Dessa forma, nos permitamos levar a vida com menos seriedade. Não sejamos duros com nós mesmos. Não tentemos forçar algo que não está lá. Não tentemos sentir algo que não está lá. Apenas sejamos. Quem sabe dessa forma somos mais honestos com quem somos e com as artes que cruzam nossos caminhos. Permitamos que elas nos atinjam ou não. Permitamos que elas existam conosco e além de nós. A vida se torna insuportável quando tentamos nos encaixar em espaços que não nos cabem. Mesmo assim, eu ainda acredito que toda obra de arte vale a pena ser revisitada. Quem sabe pela oportunidade de encontrar algo novo ou perceber que ela já não conversa com quem somos hoje. De qualquer forma, permitamos que ela, como nós, continue sempre em constante movimento.
Somos arte em movimento.

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