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CRÍTICA: A QUIET PLACE: DAY ONE: Com quem você comeria uma pizza no fim do mundo?

  • Foto do escritor: João Paulo
    João Paulo
  • 1 de jul. de 2024
  • 3 min de leitura


Fui assistir A Quiet Place: Day One sabendo o mínimo possível, apenas o que o título já entrega. Disso veio minha primeira frustração. É "dia um" apenas no título, já que a maior parte do filme se passa nos dias seguintes. Eu acreditava que essa seria uma oportunidade de dissecar, contar de forma gradual, como o mundo chegou ao fim. Nos dois primeiros filmes da franquia, já estamos inseridos nesse cenário caótico e já destruído há muito tempo. Em Day One, não há tempo para contextualização, para a construção da tensão e do suspense. Apenas o suficiente para entendermos a realidade dos personagens, seus obstáculos e objetivos.


Não há uma estruturação do perigo. Não há o tempo necessário para nos sentirmos imersos e ameaçados. De forma bem acelerada, o pandemônio começa sem trazer um panorama maior do que está acontecendo ali e ao redor do mundo. Isso é jogado na nossa cara. Eu sinto que deveríamos ser surpreendidos pela forma que as coisas vão acontecendo, mas grande parte soa previsível. Tudo que acontece é bem imaginável. Desde jumpscares soltos até sequências inteiras, o que dificulta ainda mais a sensação de perigo e adrenalina. É impossível não reconhecer algumas fórmulas prontas que funcionaram nos filmes anteriores, mas que aqui escancaram uma falta de substância e profundidade do universo construído.


Há alguns momentos que nos fazem prender a respiração, mas eles são poucos comparados ao todo. É um filme que se distancia do primeiro e único filme da franquia. Acredito que o que mais tenha saltado aos olhos do mundo todo, consagrando A Quiet Place, era sua simplicidade somada a sua potência esmagadora. Uma história apocalíptica de sobrevivência, longe da sociedade. A história de uma família e como usaram o som e a falta dele ao seu favor. O primeiro filme, mesmo que eu já o tenha assistido inúmeras vezes, ainda consegue me assustar, me deixar tenso, agarrado à cadeira e completamente imerso. Ali há uma exploração do som tão impressionante, exploração essa que está até no roteiro. Grande parte do filme não vemos os monstros, apenas os escutamos, e ainda é aterrorizante. Não é à toa que A Quiet Place foi indicado ao Oscar de Melhor Edição de Som.


Day One não traz aquele arrepio na nuca, aquela sensação de que cada som provocado pelos personagens, por menor que seja, pode ser fatal. Sua trilha sonora reflete isso. Cenas que poderiam ser completamente em silêncio são sobrepostas com trilhas para ressaltar a emoção daquele momento e o que a cena quer transmitir. Como o ditado já diz, às vezes menos é mais. O problema pode nem ser o momento que a música está presente, mas como. É um filme que, em todos os aspectos, não sabe lidar com o horror, e por isso minha decepção. No entanto, ainda que de maneira superficial, traz uma dramaticidade e humanidade que fazem o filme valer a experiência.



Day One brilha e se justifica como uma nova adição na franquia não pelos monstros, pelo primeiro dia, mas pelas interações entre Samira e Eric. São momentos com muita intimidade que rendem as cenas mais lindas e poderosas do filme. Nessas oportunidades, os personagens verdadeiramente se expõem e se abrem para uma conexão. Samira, que está com câncer, já está com seus dias contados. Ainda assim, ela quer viver uma última vez. Experimentar e se sentir inteira. Eric está perdido naquela catástrofe e, por algum motivo, encontra na Samira um porto seguro. 


A forma como essa relação entre os dois é desenvolvida e entregue por Lupita Nyong'o e Joseph Quinn nos leva de volta ao primeiro filme. Quando confrontado com uma realidade ameaçadora, um pai e uma mãe fazem o possível e o impossível para proteger seus filhos. Um amor imensurável. Em Day One, dois completos estranhos se agarram à única coisa que eles têm controle: perseverar. Buscar o que te faz bem independente dos desafios. Acredito que tudo o que importa é com quem você dividiria uma pizza no fim do mundo. Com quem, diante de todas as adversidades, você se apoiaria, confiaria e lutaria para buscar seu propósito?


A Quiet Place: Day One pode não ser um exemplo de boa abordagem do horror e não adiciona muitas coisas à franquia, mas traz um belo retrato sobre conexões humanas e resiliência. Talvez até mais do que isso. Confrontada com um câncer terminal e o fim do mundo, a única coisa que Samira queria era comer um pedaço de pizza. Nessa aventura, que ela pretendia fazer sozinha, ela conheceu alguém. Permitiu-se acolher essa pessoa e descobriu ali o que faz a vida ter sentido.



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